terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Hoje


Se todos os dias deixamos

Que ele venha novo, como um beijo,

É porque um outro, por ser curto, abandonamos,

Entregando-nos, neste tempo, a outro desejo.



Certa é cada vinda de passagem,

Além dele não sou mais que memória ou imaginação.

Troca-se o número, o mês, a imagem,

Permanece o som de quatro letras, em repetição.



Este é o imutável tempo que muda,

Numa certeza surda, além de mim...

O único tempo sem tempo

Será o fim!
(Foto: Jorge Mayer)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Velho


"Parado e atento à raiva do silêncio

De um relógio partido e gasto pelo tempo

Estava um velho sentado no banco de um jardim

A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção


E um jovem cantor falava na solidão

Que sabes tu do canto de estar só assim

Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém


E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém

Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver

A imagem da solidão que irão viver

Quando forem como tu

Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor


Já não consegues saber o que tem ou não valor

O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim

Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém


E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém

Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver

A imagem da solidão que irão viver

Quando forem como tu

Um resto de tudo o que existiu

Quando forem como tu

Um velho sentado num jardim"


(pintura: Van Gogh; poema: Mafalda Veiga)
http://www.youtube.com/watch?v=qtEYzFuEYB8&NR=1